O VOLUME DE REPASSE A TERCEIROS, EM 2022, FOI DE 1,8 BILHÃO DE REAIS OU 37% DOS RECURSOS DE ISP (QUEDA DE 1,1 BILHÃO DE REAIS QUANDO COMPARADO A 2020 – VOLTANDO A FICAR ABAIXO DO PATAMAR DE INICIATIVAS PRÓPRIAS).

Esse dado reforça a compreensão de que o direcionamento de recursos para iniciativas, programas e ações sociais de terceiros, identificado como recorde em 2020, esteve significativamente associado a aportes para o enfrentamento dos efeitos da covid-19, não se evidenciando como uma tendência de alteração pronunciada no volume de repasse do investimento social.

Cabe ponderar, todavia, que, exceção feita a 2020, que capturou os efeitos da pandemia no setor, o ano de 2022 é o período em que a diferença entre o investimento dos recursos em iniciativas próprias e o repasse de recursos para terceiros apresenta a menor diferença da série histórica, 7 pontos percentuais (em 2016, a diferença foi máxima, chegando a 39 pontos percentuais). O percentual de recursos voltados para iniciativas próprias aumentou 2 pontos percentuais entre 2020 e 2022, embora tenha sofrido queda em valores absolutos (de 0,4 bilhão de reais), por causa da extraordinária mobilização no ano da pandemia. O apoio a terceiros, por sua vez, diminuiu 10 pontos percentuais sobre a proporção total no mesmo período.

Por fim, despesas operacionais e administrativas apresentaram majoração considerável em relação a 2020, tanto sobre a proporção geral (8 pontos percentuais), quanto em valores absolutos (219 milhões de reais).

GRÁFICO 3.4 – INVESTIMENTO TOTAL, POR TIPO DE ALOCAÇÃO ORÇAMENTÁRIA, 2014-2022

O INVESTIMENTO DE RECURSOS PARA A EXECUÇÃO DE INICIATIVAS PRÓPRIAS CORRESPONDE AO PRINCIPAL TIPO DE ALOCAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DE 2022: R$ 2,1 BILHÕES (44% DOS RECURSOS)

Organizações com orçamentos acima de 50 milhões de reais têm iniciativas próprias como sua principal estratégia de alocação de recursos (47%). Entretanto, como seu volume de investimento é maior, em valores absolutos são as que mais apoiam organizações terceiras com recursos (1,276 bilhão de reais). Nesse sentido, a mudança de prática de alocação orçamentária desse grupo tem forte impacto sobre o campo, em especial quando se considera que mobilizam 73% do ISP, tal qual explicitado no capítulo 2. Já as organizações que estão na faixa intermediária de investimento, de 10 a 50 milhões de reais, têm como principal alocação orçamentária o apoio a organizações terceiras (46% dos recursos).

GRÁFICO 3.5 – INVESTIMENTO TOTAL, POR TIPO DE ALOCAÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FAIXA DE VALOR INVESTIDO, 2022

Entre 2020 e 2022, os valores proporcionais de recursos a terceiros diminuíram, sendo a queda mais expressiva encontrada em Empresas (6 pontos percentuais), seguidas por Independentes (4 pontos percentuais).

Quanto às iniciativas próprias, Empresas e Independentes aumentaram a alocação de recursos para esse fim, de 3 e 5 pontos percentuais respectivamente, enquanto nos demais tipos de investidor observou-se queda – em especial, nos Empresariais (com variação negativa de 8 pontos percentuais em relação a 2020).

À exceção do perfil Independentes, que manteve estável a participação de despesas operacionais e administrativas, os demais tipos de investidor aumentaram a alocação de orçamento nesta rubrica – em particular, no caso de Empresariais (acréscimo de 7 pontos percentuais em relação a 2020).

Ao longo da série histórica, Empresas é o perfil de organização que mais apresentou variação no volume de repasse a terceiros, sendo que, de 2018 a 2022, teve aumento expressivo em relação a 2014 a 2016, ficando acima de 70% do recurso total. No caso de Empresariais, apesar da queda na proporção de recursos para iniciativas próprias de 2020 para 2022 (8 pontos percentuais), é o tipo de investidor que apresenta certa estabilidade na alocação de recursos entre as rubricas avaliadas. Familiares apresentaram aumento consistente no volume de repasse a terceiros entre 2014 e 2020, cerca de 10 pontos percentuais de aumento por biênio, mas tal crescimento foi estancado nesta edição.

Considerando as pontas do período em análise, 2014 e 2022, Independentes apresentaram aumento de 18 pontos percentuais no volume de repasse a terceiros e, a partir de 2020, esse volume é maior do que o investido em iniciativas próprias, porém também houve queda entre 2020 e 2022 de 4 pontos percentuais.

GRÁFICO 3.6 – INVESTIMENTO TOTAL, POR TIPO DE ALOCAÇÃO ORÇAMENTÁRIA E TIPO DE INVESTIDOR, 2014-2022

Considerando o hibridismo que caracteriza a atuação dos investidores sociais em geral, ao se analisar as estratégias de atuação por tipo de investidor, temos que as Empresas são as que mais repassaram recursos financeiros próprios a terceiros (80%) enquanto as Independentes são as que menos utilizam essa estratégia (52%).

Enfocando, em seguida, a estratégia de execução de projetos próprios, temos que as Empresariais comumente viabilizam iniciativas próprias a partir da execução de terceiros (65%), enquanto as Independentes são as que menos utilizam essa estratégia (31%).

GRÁFICO 3.7 – ORGANIZAÇÕES, POR ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO E TIPO DE INVESTIDOR, 2022

O fortalecimento do campo social por meio de repasse de recursos para OSC é confirmado por 64% dos respondentes. “Instituições acadêmicas, centros de pesquisa e universidades” são o segundo tipo de organização mais apoiada (26%), superando, inclusive, “negócios de impacto” (apoiados por 22%).

Empatados em quarto lugar aparecem “organizações de apoio e infraestrutura do campo de ISP e OSC/ organizações intermediárias e de fomento” e “movimentos sociais, coletivos e redes” (20%).

GRÁFICO 3.8 – ORGANIZAÇÕES, POR TIPO DE TERCEIROS PARA OS QUAIS REPASSAM RECURSOS, 2022