Sistematização de Práticas e Avaliação
O Censo GIFE busca entender como os investidores sociais desenvolvem processos de reflexão e sistematização para os projetos ou programas desenvolvidos. Os 133 respondentes indicaram 369 projetos ou programas mais representativos e, para cada um deles, indicaram se, e em que etapa, desenvolvem processos de sistematização.
Gráfico 1: Projetos ou programas mais representativos por processos de reflexão e sistematização de dados
AVALIAÇÃO DE PROJETOS OU PROGRAMAS É MAIS FREQUENTE DO QUE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
A avaliação institucional permite que investidores sociais reflitam e repensem sua missão, estruturação e estratégias de atuação, gerando análises aprofundadas que vão além da efetividade de projetos ou programas. Por isso, em 2018, o Censo GIFE buscou diferenciar a avaliação institucional daquela realizada em projetos ou programas e qualificar as respostas negativas, investigando se a organização teria ou não interesse em realizar avaliação no curto prazo.
Em linha com a tendência observada em 2016, o patamar de organizações que avaliam seus projetos ou programas manteve-se estável em 80%. E 62% das organizações também costumam realizar avaliação institucional.
Um baixo índice de organizações que não realizam nenhum tipo de avaliação e nem têm intenção de fazê-lo em breve sugere que os investidores sociais reconhecem a importância dessa prática e aponta para uma oportunidade de universalização futura dessa agenda no campo da filantropia no Brasil.
Gráfico 2: Organizações por realização de avaliação institucional e de projetos ou programas
Dentre os diferentes perfis de investidores, institutos e fundações independentes são os que mais costumam avaliar seus projetos ou programas (89%), seguidos por empresas (82%) e institutos e fundações familiares (79%), sendo essa prática menos adotada por institutos e fundações empresarias (78%). Por outro lado, a avaliação institucional é menos comum entre institutos e fundações independentes, já que pouco mais da metade deles (56%) a adotam, e mais frequente entre empresas (76%), institutos e fundações familiares (62%) e institutos e fundações empresariais (61%).
ORGANIZAÇÕES COM MAIOR VOLUME DE RECURSOS TENDEM A AVALIAR MAIS SEUS PROJETOS OU PROGRAMAS
O percentual de respondentes que avalia seus projetos ou programas cresce conforme aumenta a faixa de investimentos realizados. Enquanto 75% das organizações que investem até R$ 6 milhões avaliam seus projetos ou programas, essas são quase 95% entre as que investem na faixa entre R$ 20 e 50 milhões. No entanto, há uma pequena queda na faixa superior (86%).
Gráfico 3: Organizações por avaliação de projetos ou programas e faixa de investimento
APRENDER SOBRE O PROJETO OU PROGRAMA É O OBJETIVO PRIORITÁRIO DA AVALIAÇÃO
Quando os investidores sociais são perguntados sobre a finalidade das avaliações, quatro itens aparecem em destaque, tendo sido indicados como importantes ou muito importantes. Além de identificar as contribuições do projeto ou programa e prestar contas para conselheiros e mantenedores, ambos com 80%, também aparecem objetivos relacionados a processos de aprendizagem para a organização (79%) e para melhorar o próprio projeto ou programa (80%).
A hierarquização desses objetivos fica mais clara quando se observa que 31% das organizações indicaram a aprendizagem para orientar a tomada de decisão a respeito do projeto ou programa como objetivo prioritário, seguida da identificação das contribuições do projeto ou programa (22%). Assim, objetivos mais relacionados ao próprio projeto ou programa e à prestação de contas aos principais tomadores de decisão da organização têm maior relevância do que a comunicação externa ou com outros stakeholders específicos.
Em relação ao Censo GIFE 2016, chama a atenção a redução dos objetivos relacionados à interlocução com o poder público, seja para influenciar políticas públicas (advocacy), que apresentou queda de 12 pontos percentuais, ou para demonstrar resultados a parceiros na execução dos projetos ou programas (diminuição de 18 pontos percentuais).
Vale mencionar que esta edição apresentou duas novas opções de objetivos de avaliação (identificar as contribuições do projeto ou programa e gerar aprendizagem para a organização respondente) que figuraram entre as muito importantes ou importantes para 80% e 79% das organizações respondentes, respectivamente, o que pode impactar a comparação com 2016; ainda assim, as demais alternativas não apresentaram variações tão significativas.
Gráfico 4: Organizações por tipo de objetivo de avaliações de projetos ou programas
MAIS ORGANIZAÇÕES ESTÃO AVALIANDO SEUS PROJETOS OU PROGRAMAS PRIORITÁRIOS
O Censo GIFE 2018 apresentou em seu questionário duas novas alternativas para as organizações dimensionarem os critérios utilizados para decidir se o projeto ou programa deve ser avaliado. Uma delas foi o potencial para alcançar escala, mencionada por 49% dos respondentes. A segunda alternativa nova, referente ao grau de inovação do projeto ou programa, foi indicada por 23% dos respondentes. Além disso, 44% dos investidores sociais seguem tendo como política avaliar todos os seus projetos ou programas e 30% dos respondentes têm o compromisso de prestar contas à sociedade. A importância desses dois critérios se manteve estável em relação a 2016.
Entre 2016 e 2018, houve uma queda significativa (de 47% para 17%) na proporção de respondentes que sinalizaram que projetos ou programas prioritários não foram ou não serão submetidos à avaliação.
Gráfico 5: Organizações por critérios para decidir avaliar um projeto ou programa (2016 e 2018)
Entre 2016 e 2018, houve uma queda significativa (de 47% para 17%) na proporção de respondentes que sinalizaram que projetos ou programas prioritários não foram ou não serão submetidos à avaliação.
POTENCIAL DE ESCALA É O CRITÉRIO MAIS UTILIZADO PARA DECIDIR AVALIAR
Entre os diferentes tipos de investidores sociais, o potencial de escala é o critério mais utilizado por institutos e fundações empresariais (59%) e familiares (52%). A maioria de institutos e fundações independentes (61%) indicou que é política da organização avaliar todos os projetos ou programas. Cerca de metade das empresas (47%) considera o critério de compromisso de prestação de contas à sociedade.
Gráfico 6: Organizações por principais critérios para decidir avaliar um projeto ou programa e tipo de investidor
CUSTOS, MÉTODOS E RECURSOS HUMANOS SÃO AS PRINCIPAIS BARREIRAS PARA AVALIAR PROJETOS OU PROGRAMAS
O Censo GIFE 2018 investigou, pela primeira vez, obstáculos e dificuldades encontradas por investidores sociais para avaliar projetos ou programas. Nesse sentido, os altos custos de desenvolvimento de uma boa avaliação foram indicados como barreiras por metade dos respondentes (50%). Em segundo lugar, surgiu a dificuldade de mensurar o impacto (46%), seguida de falta de tempo (38%) ou habilidade das equipes (25%).
Enquanto questões relacionadas aos métodos de avaliação e aos recursos humanos disponíveis foram mencionadas por uma parcela relevante das organizações, aspectos relativos a uma possível resistência dos diversos públicos envolvidos na execução da avaliação foram menos assinalados. Apenas 11% das organizações respondentes não identificaram barreiras para o desenvolvimento de avaliações de projetos ou programas.
Gráfico 7: Organizações por barreiras identificadas para avaliar projetos ou programas
PRÁTICAS E POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS OU PROGRAMAS FOCAM PRINCIPALMENTE O PÚBLICO INTERNO
Entre as práticas e políticas de avaliação adotadas pelos respondentes do Censo GIFE 2018, as mais frequentes são o estabelecimento de critérios para definir a periodicidade de avaliação de projetos ou programas, indicada por 55% dos investidores sociais, seguida pela divulgação dos resultados das avaliações para o público interno (45%) e pela sistematização de experiências e boas práticas em avaliação para serem compartilhadas internamente (40%), o que sugere maior ênfase no público interno. Políticas de avaliação alinhadas às metas e indicadores dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) são as menos frequentes, citadas por apenas 17% dos investidores sociais.
Gráfico 8: Organizações por tipo de prática e política de avaliação de projetos ou programas
ORGANIZAÇÕES COM MAIOR VOLUME DE RECURSOS APRESENTAM MAIOR DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO
De modo geral, existe maior incidência de práticas e políticas de avaliação de projetos ou programas em organizações com orçamento superior a R$ 20 milhões, especialmente quando sua adoção depende mais de recursos financeiros e humanos.
Gráfico 9: Organizações por tipo de prática e política de avaliação de projetos ou programas e faixa de investimento
CONTRATAÇÃO DE CONSULTORIA EXTERNA PARA MONITORAR E AVALIAR PREVALECE EM RELAÇÃO A EQUIPES PRÓPRIAS ESPECÍFICAS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO
Quando perguntados a respeito de sua estrutura para monitoramento e avaliação para projetos ou programas, 76% dos respondentes afirmaram refletir sistematicamente sobre os processos de monitoramento e avaliação para aprimorá-los e aplicá-los nos próximos ciclos. Há também uma grande parcela de respondentes (71%) que prevê recursos para isso.
A maior parte dos investidores sociais (63%) recorre à contratação de consultorias externas para estruturar processos e executar serviços de monitoramento e avaliação, já que apenas pouco mais da metade (55%) conta com equipe própria para desempenhar essa função. Comparativamente ao último Censo, os percentuais mantiveram-se praticamente estáveis: a contratação de consultorias externas cresceu 2 pontos percentuais, passando de 61% para 63%, e a parcela de organizações com equipe própria específica manteve-se a mesma (55%). Esse dado chama a atenção considerando que, como apontado anteriormente, a maior parte dos projetos ou programas foram ou serão avaliados por equipes internas (86%), enquanto 41% foram ou serão avaliados por equipes externas. O que pode indicar que as equipes internas que desenvolvem avaliações de projetos ou programas não são equipes específicas de monitoramento ou avaliação.
Ainda são poucos os investidores sociais (11%) que combinam diferentes estruturas para monitorar projetos ou programas, contando simultaneamente com equipe, orçamento, contratação de terceiros, investimento em formação e desenvolvimento de reflexão sistemática sobre o processo. Essa mesma combinação é ainda mais rara para avaliar projetos ou programas, estando presente em somente 7% das organizações. Por outro lado, apenas 1% das organizações conta somente com cursos para formação da equipe, ou seja, não dispõe de nenhuma outra estrutura para o desenvolvimento dessas atividades.
Gráfico 10: Organizações por estrutura para monitorar e avaliar projetos ou programas
INVESTIDORES SOCIAIS CONTAM COM MAIS ESTRUTURA DE MONITORAMENTO DO QUE DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS OU PROGRAMAS
De forma geral, as organizações estão mais estruturadas para desenvolver atividades de monitoramento do que de avaliação de projetos ou programas, exceto no caso em que consultorias externas são contratadas para estruturar processos ou para executar serviços regularmente. Esses resultados possivelmente se justificam em função das particularidades e diferenças entre monitoramento e avaliação em termos de regularidade da atividade, conhecimento técnico específico, custos etc.
Gráfico 11: Organizações por estrutura desagrupada para monitorar e avaliar projetos ou programas
COLETA DE DADOS DE MONITORAMENTO DE PROJETOS OU PROGRAMAS É CONDUZIDA PELA EQUIPE INTERNA DE INVESTIDORES SOCIAIS
A equipe interna é a principal responsável pela coleta de informações para monitorar projetos ou programas, com destaque para o controle de atividades financeiras (prestação de contas), conduzido pelos próprios funcionários em 82% das organizações. Apenas em cerca de metade das organizações (51%) a equipe interna tem a atribuição de coletar dados para monitorar a percepção ou a satisfação de beneficiários ou outros stakeholders, já que, nessa atividade específica, a contratação de equipe externa ganha relevância (15%). O envolvimento da equipe da organização responsável pela execução do projeto ou programa se dá principalmente na coleta de dados para controle de atividades operacionais, o que ocorre em 33% dos investidores sociais.