Destino dos recursos do investimento social

Ainda que tenha diminuído a quantidade de organizações com perfil financiador,

DOBRA O VOLUME DE REPASSES A TERCEIROS, SENDO O TIPO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS MAIS SIGNIFICATIVO PARA INVESTIDORES SOCIAIS

Embora as análises sobre tipos de atuação e faixas de repasse percentual de recursos a terceiros mostrem que a menor parcela de  organizações assume características mais financiadoras, tal cenário é diferente quando são analisados os volumes de recursos repassados. Em 2020, o direcionamento de recursos para iniciativas, programas, ações sociais ou gestão de terceiros foi recorde sob todos os aspectos: além do volume de recursos (R$ 2,5 bilhões) ter sido 105% maior do que em 2018 (valores atualizados pelo IPCA), passou a ser também o tipo de despesa orçamentária mais significativa na atuação dos Associados GIFE (47% de seus investimentos).

Apesar de, em termos absolutos, ter havido aumento nos demais tipos de alocações orçamentárias – de 31% no caso de recursos voltados a iniciativas próprias e de 5% nos gastos administrativos e de infraestrutura dos respondentes –, eles diminuíram seu peso na composição orçamentária das organizações frente ao aumento tão expressivo nos recursos destinados a terceiros (redução de 8 e 5 pontos percentuais, respectivamente). Em valores absolutos, as despesas administrativas e de infraestrutura se mantiveram no patamar da última edição do Censo, enquanto os investimentos relacionados à atuação das organizações aumentaram quase um terço para iniciativas próprias e mais do que o dobro para o apoio a terceiros.

Portanto, o aumento do volume de recursos investidos pelo campo não foi direcionado para as próprias organizações – que passaram a gerir mais recursos mantendo as mesmas condições institucionais (sem terem ampliado significativamente seus gastos com equipe administrativa, infraestrutura, consultorias e outros). O aumento do volume total de investimento está relacionado com a atuação de investidores sociais no enfrentamento dos efeitos do novo coronavírus (Covid-19), conforme analisado no Capítulo 2.

Gráfico 3.4 – Investimento total por tipo de alocação orçamentária (2014, 2016, 2018 e 2020)



PROPORÇÃO DE INVESTIMENTOS EM INICIATIVAS DE TERCEIROS AUMENTA EM TODOS OS PERFIS DE INVESTIDOR SOCIAL, COM EXCEÇÃO DE INSTITUTOS, FUNDAÇÕES E FUNDOS FILANTRÓPICOS EMPRESARIAIS

Há muita variação na composição dos orçamentos das organizações de diferentes tipos de investidores sociais. O destaque fica para  Institutos, Fundações e Fundos Filantrópicos Empresariais, que, em comparação com 2018, foram os únicos a aumentar o peso da alocação de recursos em iniciativas próprias (11 pontos percentuais) e a diminuir a porcentagem de recursos para apoio a terceiros (9 pontos percentuais). Nos demais perfis de investidor, observa-se o padrão oposto: aumento do peso de apoio a terceiros no orçamento – em especial, no caso de Empresas (89%, com variação de 18 pontos percentuais em relação a 2018).

Gráfico 3.5 – Investimento total por tipo de alocação orçamentária e por tipo de investidor (2020 e variação em relação a 2018



Sobre as iniciativas relacionadas aos impactos da pandemia de Covid-19, o destino dos investimentos sociais foi majoritariamente para apoio a terceiros, sendo apenas 13% direcionados a iniciativas próprias das organizações ou de suas mantenedoras.

Gráfico 3.6 – Investimento nas iniciativas de enfrentamento dos efeitos da Covid-19 por tipo de atuação (total e por tipo de investidor)



INVESTIDORES SOCIAIS DIVERSIFICARAM AINDA MAIS OS TIPOS DE TERCEIROS APOIADOS

No apoio a terceiros, o destino dos investimentos passou a ser ainda mais diversificado em 2020, comparado a 2018. O apoio a organizações da sociedade civil (OSC) continua sendo o mais frequente no campo, realizado por 64% dos respondentes. Entretanto, verifica-se um aumento do número de organizações que repassaram recursos a outros tipos de atores, em especial a: fundos filantrópicos, independentes, locais e/ou comunitários (aumento de 14 pontos percentuais); movimentos sociais, coletivos e redes (também aumento de 14 pontos); indivíduos – como pesquisadores/as, artistas, produtores/ as culturais e esportivos, lideranças periféricas, empreendedores/as individuais, influenciadores/as digitais, etc. (aumento de 13 pontos); e outros investidores sociais privados (também 13 pontos). 

OSC RECEBERAM MAIS RECURSOS DE INVESTIDORES SOCIAIS, SEJA PARA INICIATIVAS EM GERAL, SEJA PARA ENFRENTAMENTO DOS EFEITOS DA COVID-19

Nas iniciativas específicas de enfrentamento dos efeitos da Covid-19, as OSC também foram as principais instituições a receber investimentos, tendo sido apoiadas por 47% dos respondentes. Considerando a capilaridade desse tipo de organização em territórios e comunidades mais vulneráveis e sua capacidade de articulação e desenvolvimento de soluções, é possível que o repasse de recursos filantrópicos para elas tenha sido uma ação estratégica, efetiva e rápida para os investidores sociais atuarem em uma situação emergencial e que demandou respostas imediatas. As soluções e arranjos desenvolvidos no contexto atípico vivenciado em 2020 jogam luz sobre os potenciais de diferentes atores no desenvolvimento de iniciativas de fim público, bem como oferecem aprendizados e formas de atuação que podem perdurar e influenciar as estratégias futuras de investimento social.

Gráfico 3.7 – Organizações por tipos de terceiros para os quais repassam recursos







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